Vida
por Ligia Pinheiro Barbosa
13 de julho de 2020
“O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar...” (Lupicínio Rodrigues)
A vida é muito interessante, é muito perigosa, é muito boa, é muito mais coisas que não conseguimos definir. Manter-se vivo é o instinto primeiro do ser que nasce, seja humano ou não.
E depois de “aqui jogado”, segundo o filósofo Heidegger, temos que escolher o que fazer dessa vida que nos foi dada, ou entraremos em depressão e morreremos.
Já passei com folga da metade da minha vida, porque, por mais que a ciência tenha evoluído, não passarei dos cem anos. Aliás, nem sei se perto chegarei. Mas eu gostaria de viver mais um bom tempo, se assim me for permitido. Seja por Deus, pelos céus, pela genética ou pela sorte, que penso ser uma composição dos itens anteriores. Acho que tem muita coisa interessante pela frente, apesar do complicado momento atual.
Esse assunto sempre foi tabu, porque vivemos como se fôssemos eternos. A sensação que eu tenho, vivendo um dia de cada vez, é que um paredão caiu à nossa frente e não temos como ultrapassá-lo. Ele vai se arrastando, diariamente. Sempre foi assim, porque todos nós só vivemos o agora. Todos os outros tempos – passado e futuro- ou foram ou virão. Ou não existirão.
Mas o Corona vírus, ao nos tirar o futuro, as expectativas, os planejamentos, fez com que o hoje fosse o que é: o momento. E curiosamente, viver sem planos mostrou-se um peso.
À parte estar longe dos meus filhos, o que me mata de saudades, tenho conseguido fazer coisas interessantes: dar andamento a um projeto cultural para o qual escrevo nesse momento, fazer ações assistenciais e de caráter político-social via uma ONG que participo, levar adiante um empreendimento, trabalhar no jardim, ler e aproveitar o melhor possível a companhia da minha querida mãe.
Dia após dia mudamos, nos transformamos. Esta pausa em viagens e correria de cidades grandes nos dá a chance de apreciar as coisas simples, boas e essenciais da vida. Ao mesmo tempo em que nos permite fazer uma reflexão e tentar melhorar tanto os hábitos quanto as práticas de convivência.
O tempo nesse mundo é curto e ao ficar mais sábios estamos também mais velhos. É procurar uma brecha para deixar como herança o que tivermos de melhor em termos de conhecimento e sabedoria de vida.
E vamos filosofando, nesse tempo de isolamento. Aqui em nosso cantão, Monte Carmelo, nem tanto transtorno, vida um pouco mais normal. Mas o normal, o novo normal ainda não se definiu. Que bons ventos soprem sobre nós.