Domingo
por Ligia Pinheiro Barbosa
06 de julho de 2020
Em tempos normais, antes da Covid19, era comum ouvir dizer que a sexta-feira era o melhor dia da semana, embora eu nunca tenha sido de acordo com esse pensamento. Ao contrário de muitas pessoas, quase a maioria esmagadora dos trabalhadores, o domingo sempre foi um dia que curti muito: às vezes ia à missa, depois o almoço com a família, os artigos especiais dos jornais nos finais de semana, e para terminar, um cineminha e a infalível pizza. E quando me mudei para o Rio de Janeiro, a caminhada de manhã, no calçadão e o encontro com os amigos para um cafezinho e um bom papo foram acrescentados a esta rotina.
Atualmente estamos passando por um período difícil, e o isolamento e/ou distanciamento social é a única arma certa para evitar contrair esta doença.
Felizmente estou no interior do País, em minha cidade natal, onde a vida ainda flui razoavelmente normal.
E o meu domingo que passou foi maravilhoso – sem meus filhos, mas com mãe, irmão, cunhada, sobrinhas e sobrinho e uma sobrinha-neta que é só alegria. Como é bom ver a vida se renovando. As crianças de dois anos de idade, hoje, parecem muito mais velhas. Expostas a muitos estímulos, às vezes é difícil acreditar no que falam, as relações que conseguem fazer, expressões que usam. É surpreendente.
Quando as vejo, eu me lembro que fui para a escola, primeiro ano primário, com sete anos e meio! Inacreditável! Minha querida tia Maria entendia que sete anos era o mínimo para começar os estudos, acompanhando as demais crianças tanto em aprendizado quanto emocionalmente. Hoje vejo que esta visão não se sustenta, mas era o que prevalecia à época.
Um dia eu disse para uma sobrinha – ela tinha cinco anos – que eu era muda, aos cinco anos de idade. Ela olhou espantada para mim e perguntou: era, tia Ligia? Você era muda? Foram muitos risos, e eu respondi: muda, muda, a tia não era, mas com certeza não tinha um décimo do seu vocabulário. Se eu me comparar com as crianças de hoje...sei não, acho que posso considerar que eu era bem limitada.
Ao comentar uma música que eu cantava para meu filho, há 32 anos atrás, que dizia “melhor fazer o que papai mandou”, minha sobrinha-neta Luiza me corrigiu na hora: e mamãe!! Palmas para ela. Somos de uma família onde o matriarcado é forte, e continua. Ao ver a Luiza, penso, torço e espero que o papel a ser desempenhado pelas mulheres seja mais visível. Porque importante já é. Vivas a esta menina, tão pequenina e com opinião forte.
Além das histórias, vimos a lua cheia nascer, cozinhamos no fogão de lenha, demos comida para as galinhas, cavalo, carneiros. A colheita de café continua até dez horas da noite, e minha sobrinha que chegou aqui com medo do caminhão, foi embora gostando de ver o movimento do mesmo.
Que a vida nos brinde com mais domingos como este, e que nos próximos os ausentes possam comparecer. Será a alegria plena.