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Os invisíveis

por Ligia Pinheiro Barbosa

08 de abril de 2020

Os invisíveis

Nunca se deu tanto valor aos invisíveis. As poucas vezes que vou à rua vejo os lixeiros, enfermeiros, médicos, entregadores, taxis, motoristas de ônibus, técnicos de telefonia, técnicos de rede elétrica e de saneamento, e muitos outros trabalhadores na labuta, e penso em como nos propiciam conforto e, atualmente, se arriscam por nós. Não sei se seria possível enumerá-los, porque a cada problema que nós, do isolamento social, temos em casa, quase sempre é preciso que um deles nos visite para solucioná-lo.

No dia-a-dia a maioria desses trabalhadores são invisíveis. Eu acho que é da natureza do ser humano se acostumar com as facilidades e só dar o devido valor ao que tem, quando se perde ou na iminência da perda – seja ela qual for. Até com nosso corpo é assim: você só sabe se tem braço, se ele dói; idem para o dente; para o dedão do pé. E é lógico que assim seja, pois uma vez “entendido”, “aprendido” o assunto, a mecânica, o fazer, entramos na fase automática e vamos aprender coisas novas. Mas já que o mundo fez um “pit stop” obrigatório, acho que podemos pensar sobre nossos comportamentos como indivíduos, cidadãos, e quem sabe, voltarmos à ativa um pouco melhores. Como li em uma revista, que já não sei mais qual é, não existe nada que não possa ser melhorado.

Felizmente nasci em uma família que sabe o valor do outro e do coletivo. Casei-me com uma pessoa com os mesmos valores, e assim criamos nossos filhos. Não é sobre dar coisas que falo, mas sobre respeitar o próximo. Creio que esta parte fazemos, e acho que se uma parcela maior dos habitantes da terra fizer isso, já terá havido um avanço.

Mas devemos falar também sobre as condições de vida, principalmente em nosso País. Minha opinião é que todos que têm pelo menos uma casa e comida garantida deveriam se preocupar com o outro: o vizinho conhecido ou desconhecido.  Inadmissível que passemos pelas ruas e não vejamos as pessoas que ali dormem, vivem; que olhemos as favelas e pensemos que viver naquela aglomeração também é normal. Não é – simplesmente não é.

Daí me perguntam: ok, mas o que quer que eu faça? E eu respondo: quero que você seja um cidadão, porque tem trabalho, casa, comida, então pode se preocupar em saber em quem vai votar para administrar sua cidade. É a cidade o lugar real, onde a vida acontece. O governo federal existe no município de Brasília, o governo de Minas Gerais no município de Belo Horizonte. Portanto, o que existe é o município, e o mais importante deles é o que você vive.

Sendo cidadão, seja votando na pessoa capacitada, ligando para os órgãos públicos para relatar problemas que você vê, participando dos vários Conselhos Municipais que já existem, você fará com que a vida desses INVISÍVEIS seja melhor. As pessoas esclarecidas e responsáveis que gerem a cidade, e sabem que estão sob o olhar do povo (essa massa amorfa...), certamente tratarão com o devido respeito e remuneração correta estes trabalhadores.

Todos são importantes, mas o fato de uma cidade ser boa ou ruim – em vários sentidos – não depende apenas dos gestores, mas principalmente dos que ali vivem.

As crises colocam a nu a maior parte dos problemas que tempos de bonança escondem ou passam desapercebidos. É hora de ajudar em todos os sentidos: nas campanhas por EPIs, para alimentação dos menos favorecidos, ficando em casa, vacinando-se, e tratando melhor ainda os invisíveis, sem os quais, certamente, já teríamos visto o sistema de saúde colapsar de forma mais grave.

COLUNA DA LIGIA

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