Uma casa no campo
por Ligia Pinheiro Barbosa
29 de abril de 2020
Poucas pessoas da minha geração desconhecem a música “Casa no Campo”, famosa na voz de Elis Regina. Todos nós desejávamos esse lugar de paz e tranquilidade, mas também de reunião com família e amigos. Pois bem, aqui estou eu, na minha casa no campo, em meio a árvores, pássaros, livros, discos, dois amigos que são as pessoas que aqui trabalham e meu cachorro Mike.
O condomínio está cheio. Não se vê ninguém, mas ouço o barulho das crianças e as músicas tocando, tudo parecendo tão “normal”.
Mas a paz que sempre tive aqui deu lugar à tristeza, à angústia, quando vejo uma TV ou penso no que se passa no mundo. Ninguém falava em vírus até três meses atrás, o País teve carnaval, e a pergunta que fazia “e se” passou a ser “e agora”?
Temos que cuidar do agora, mas é inevitável pensarmos no depois. Funcionários dos vários níveis de governo, no meio do fogo, tomam medidas urgentes e possíveis. Congresso fazendo a parte dele, aprovando as propostas que chegam do Executivo, e tudo precisa ser rápido. Urgente é a palavra de ordem.
Fora do governo, ex-presidentes de Banco Central, ex-funcionários em geral, professores e estudiosos do Brasil e do mundo se debruçam sobre o assunto, porque é preciso pessoas pensando e traçando cenários em todas as áreas, para o amanhã que vier.
As pesquisas para encontrar uma vacina anti-coronavírus têm prioridade total nas ações em curso, mas ao mesmo tempo, vários estudos sobre o impacto econômico e social dessa pandemia surgem em tempo recorde. O parâmetro usado nos estudos econômicos anteriores ao problema atual era a crise de 1929, atualmente substituído pelo cenário mundial pós gripe espanhola, que matou 27 milhões de pessoas em todo o mundo e encolheu o PIB em muitos pontos percentuais.
O cenário atual é agravado pela possibilidade de disseminação mais rápida, devido à facilidade de deslocamento em todo o mundo. Diferentemente da 2ª Guerra Mundial, localizada na Europa, hoje temos praticamente o mundo todo tomado pelo vírus. O que há de diferencial positivo hoje é a capacidade de resposta da ciência, em estágio muito mais avançado do que na época da gripe espanhola, mas ainda assim, uma vacina só deverá surgir no prazo de um ano. Portanto, se conseguirmos “escalonar” os infectados é provável que saiamos razoavelmente bem no item sobrevivência, o mais relevante.
Pois bem, o Brasil está agindo:
- o ministro da Saúde comanda as ações, instituiu um comitê de crise, e as autoridades de saúde se anteciparam à transmissão em massa do vírus e decretaram a quarentena para a população, EXCETO serviços essenciais (hospitais, limpeza, segurança, supermercados). Todos que não se enquadrarem nessa categoria é para ficarem isolados socialmente. Isso significa não a cinemas, bares, festas, reuniões com muitas pessoas;
- o ministério da Economia, em conjunto com outros Ministérios (Saúde) e Banco Central, elaborou um pacote de medidas que ronda os 10% do PIB brasileiro, para socorro aos serviços de saúde, às empresas que estão fechadas, aos trabalhadores autônomos e a todos que deixarão de ter sua renda nesse período. O Estado está aí para cumprir esse papel: dar suporte ao cidadão. E assim será feito, em uma semana, disse nosso ministro.
Não se sabe ao certo quanto tempo viveremos este estado de exceção, mas aqui copio Melinda Gattes e digo que é certo que é tempo de:
- ouvir e seguir o que dizem os especialistas da área de saúde;
- manter distância social e lavar as mãos;
- dar apoio às pessoas e comunidades mais vulneráveis;
- ter compaixão de nós mesmos e pelos outros, encontrando caminhos para nos cuidarmos e também cuidar de nossa família e amigos.
Se eu conseguir ajudar alguém em meio a essa pandemia, seja conversando, informando ou contribuindo com alguma campanha, terá valido a pena estar isolada na relativa paz que essa casa no campo me proporciona.