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Casa de mãe

por Ligia Pinheiro Barbosa

29 de maio de 2020

Casa de mãe

E a pandemia continua. E o distanciamento continua.

Em meio a tantos problemas, muitas novidades, deixei minha casa em Petrópolis após 40 dias de isolamento e vim para a casa da minha mãe. Doce lar, doce refúgio, tudo de bom. Não fossem os lampejos de realidade que vejo pela TV eu poderia jurar que está tudo normal.

Minha mãe é uma pessoa especial: carinhosa, otimista, realista, prestativa e poderia listar páginas de características dela. Todas boas, porque eu não consigo encontrar nada de ruim nela. E trabalha muito, é a disposição em pessoa.

Além desse privilégio, apesar de não ter meus filhos por perto, tenho convivido com primos, amigos e sobrinhas e sobrinhos. Uma querida, Roberta, estudante de psicologia, decidiu nos brindar com sua companhia nesse período e mora bem em frente à casa da avó. Almoçamos juntas, lanchamos, jantamos, falamos de filosofia, declamamos poesias, pintamos as unhas e nos divertíamos com a Kika, a sua cachorrinha. Que bom, que tempo leve.

Mas a vida não tem apenas leveza. Fabio, meu marido, tinha uma plaquinha no escritório que dizia: “a vida é dura e injusta”. E hoje tivemos uma prova disso: a Kika caiu na piscina e morreu. Hoje é dia de luto. Todos lamentamos, todos choramos. Ela era da Roberta, mas era de todos nós.

Já estava velhinha? Podia ter vivido um pouquinho mais? Acho que não, era a sua hora. A cada dia que passo tenho me tornado mais determinista, achando que quando sua hora chega, chega. Não adianta fugir.

Ah! E se...e se... e se...

Mas SE é um tempo que não existe. Vivamos o agora, o presente. Sempre soubemos de nossa finitude, e agora mais do que nunca ela se tornou real. Trancados em casa, ou quase trancados, sem poder viajar, ir a bares, viver como antes, o que nos resta? Viver o agora e sermos gratos por estarmos vivos.

Choraremos sempre os nossos mortos, inclusive a querida Kika, porque a morte não é uma coisa para se acostumar. A morte é para se aceitar, porque não há opção.

Roberta, Luiza, Cora e todos nós fomos muito felizes por ter tido esta linda cachorrinha conosco por um bom tempo. Lembremo-nos das histórias alegres que vivemos ao lado dela, e aqui sim, como SE ela estivesse agora conosco.

Como disse um poeta para os passarinhos, aqui adaptado,  “sua alma voou para o céu dos cachorrinhos". 

COLUNA DA LIGIA

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