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Visitante indesejado

por Ligia Pinheiro Barbosa

25 de março de 2020

Visitante indesejado

Muito interessante quando nos vemos diante de uma folha em branco, onde se pode escrever qualquer coisa, milhares de ideias nos vêm à tona, mas há que escolher o assunto. E o assunto é coronavirus e suas consequências.

Aqui estou, sozinha, ISOLADA SOCIALMENTE, cumprindo a quarentena solicitada pelas autoridades: O MUNDO FECHOU, DESLIGOU. O que é isso? Realidade, sonho, pesadelo? Onde e quando foi aceso o pavio desse efeito devastador? Isso importa? Quais serão as consequências de um mundo fechado, para os sobreviventes? O que será o dia seguinte para o cidadão menos favorecido, que no Brasil é a maioria da população?

De repente aparece um vírus que se reproduz tão rapidamente que nenhum sistema de saúde no mundo consegue lidar com as suas consequências, que são as internações de casos graves. Embora esses casos sejam apenas 2% do total de infectados, necessitam internação e respiração mecânica. Se somados às pessoas que dia-a-dia já ocupam leitos de hospitais, morrerão mais pessoas do que poderia caso houvesse chance de tratamento.

A preocupação primeira, obviamente, é com a vida, e por ela, médicos, enfermeiros e cientistas de todo o mundo estão lutando. Esta não é uma guerra comum, de um inimigo visível, para a qual tínhamos estratégias de combate bem montadas. Ao contrário, nos pegou completamente desaparelhados para a sua grandeza.

Há 4 anos atrás, Bill Gates fez uma palestra (TED) na qual traçou exatamente este cenário. Falava do Ebola e outros vírus, mas dizia que o grande inimigo do homem nessa geração não era mais a bomba atômica que tanto assombrou as gerações do pós-guerra, mas um vírus que atingisse regiões populosas e para o qual o mundo não estivesse preparado para combater. Sugeriu formar um “exército” de médicos, enfermeiros, forças armadas, e quem mais necessário, com estratégias traçadas, aptos a agir em todo o mundo, em tempo recorde. Exatamente o que nos salvaria agora, ou minimizaria os danos de vidas e materiais. Não havendo esse exército, agora é lidar com as consequências, e lutar com as armas que cada País dispõe, na falta de coordenação global da pandemia.

No meu entendimento o nosso Ministro da Saúde está coordenando bem as ações, a sociedade se mobilizando para contribuir de forma efetiva. Dia após dia vão-se atualizando as medidas, pois não tem como ser diferente, já que estamos a reboque do problema...um vírus...invisível!

A sociedade entendeu a gravidade da situação e se recolheu – todos agora vivendo no seu pedacinho, caso tenha a felicidade de dispor de um, porque muitos não têm para onde ir.

Sou economista, trabalhei 30 anos no setor público, em várias áreas. No Governo Federal, durante os anos 1995-2000, assessorei o Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda, e tive sob minha responsabilidade lidar com vários programas sociais do governo federal, bem como transferências para Estados e Municípios. Nesse período foram criados três programas de transferência direta de renda, ao qual foi agregado mais um, em 2004 e hoje conhecidos como Bolsa Família. Elaboramos a LOAS que concede um salário mínimo para idoso (mais de 60 anos) e deficientes físicos que comprovem renda familiar de até 1/4 do salário mínimo. A existência dessa rede de transferência, juntamente com outros cadastros como os da Caixa Econômica Federal, viabiliza que o governo federal faça imediatamente transferências de recursos para as pessoas que ficarão em casa e não terão renda alguma durante a quarentena.

Outras medidas terão que ser tomadas em relação aos pequenos empresários e outros agentes da sociedade, e assim vão se desenrolando diariamente as ações.

Mas é tudo muito triste: famílias divididas, pessoas desorientadas, e a constatação de que muita coisa nessa vida louca que levamos é fútil, inútil. Um simples “viruzinho”, invisível, chega e mostra aos humanos a sua fragilidade.

Já sabemos que somos finitos, mas esse é um assunto para os outros. Chegou para a humanidade, e quase igualou a todos, de uma só vez. Os mais abastados ainda terão mais recursos para lutar, com sorte sairão vivos. Mas eu penso que quando este pesadelo passar, muitas coisas não serão mais como antes. Pelo menos é o que eu espero, mudanças para melhor.

COLUNA DA LIGIA

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