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Pasto do Ze

por Mario Wilson Pena Costa

08 de setembro de 2020

Pasto do Ze

Fomos visitar a cidade de Lagos, em Portugal, onde Deus resolveu esculpir o litoral daquela cidade construindo - com a maestria só dos Deuses - catedrais, grandes salões sobre a água do mar e até um « Arco do Triunfo » onde os barcos menores podiam passar debaixo das falésias ou disputar com inúmeros turistas em caiaques um lugarzinho para fotografar aquelas maravilhas. 

Lá nos deparamos com um fato interessante que eu diria até inusitado para os dias de hoje.

Um pouco antes de visitar aquelas falésias e esperando o horário da saída do nosso barco decidimos atravessar para o outro lado do cais daquele porto e procurar um local para tomar um café, o que normalmente nos daria o direito de visitar a toalete do local enquanto esperávamos o barco.

Como era um domingo e quase todo o comércio estava fechado nas redondezas fomos encontrar um boteco de aparência duvidosa, mas que parecia ser limpo o suficiente para aquela ocasião.

Lá dentro, atrás de um balcão, só vimos duas pessoas, um senhor já com uma idade avançada, com um avental ensebado na cintura, de aparência preguiçosa que parecia estar prestando um favor a todo cliente do seu estabelecimento, e uma senhora que nos servira o café naquele local que ao final nos pareceu simpática com a tradicional pergunta se tudo teria corrido bem, no momento de nos apresentar a conta. Talvez pensando na sua gorjeta.

Aparências à parte, o café estava surpreendentemente delicioso.

Antes de pagar a conta veio a minha surpresa. Percebi que estávamos sentados no Pasto do Zé. Na placa de preços fixada na parede dizia: Pasto do Zé - é melhor comer aqui.

Aí eu voltei ao meu tempo de criança e comecei a refletir sobre o nome daquele boteco.

Na fazenda do meu pai havia vários pastos - o pasto de baixo, o pasto dos bois, o pastinho, o pasto de cima, o pasto da lavoura entre outros. Todos para os animais pastarem capim.

Em Monte Carmelo o meu avô alugava o pasto da sua casa para pernoites de cavalos que passavam pela cidade.

Pensei comigo: ora, eu não sou filho de um boi, de uma vaca, de um cavalo e muito menos filho de uma égua para estar pastando aqui no Pasto do Zé. Será que estamos no lugar errado ou essa também seria uma linguagem própria dos portugueses?

Fui descobrir, depois de muitos anos, que o nome « pasto » era utilizado antigamente, sobretudo pelos portugueses, para estabelecimentos de comidas rápidas e atualmente esse nome só é utilizado como comida de ervas para animais ou pastagem, apesar de ainda existirem vários restaurantes em Portugal com o nome de pasto. Após algum tempo de reflexão, percebi que de vez em quando, mesmo não sendo um animal, é bom ir pastar em Portugal.

 

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