Inquietude
por Miriam Rezende Goncalves
31 de agosto de 2020
Meu espírito tem uma inquietude, como se estivesse sempre à procura de
uma emoção sublime, algo que ultrapassa este tempo e espaço. Em vão, tento ser
discursiva, afinal, não sei sentir pouco e minha intuição
aflorada está sempre em estado de alerta.
Porém, nossas almas seguiam conectadas. Como se um pacto velado, sutil, tivesse se estabelecido entre nós. Eu entendia o seu tormento e você, o meu silêncio. É que, às vezes, a saudade arde e queima por dentro.
O dom do esquecimento havia fugido de mim, penso que eu poderia ter sido
sua decisão mais acertada. Por hora, entreguemos nossos destinos aos
mistérios do talvez.
Então aguardava ansiosa para recomeçar - como se fosse possível - porque
nosso reencontro havia sido programado pelo destino: e nós sabíamos disso.
Outrora, ousava sonhar com dias felizes, como se o tempo fosse capaz
de apagar toda mágoa do passado; mas não.
Quisera eu te dizer do amor que senti e, quiçá, ainda sinto. Mas você
já não cabe nos meus planos. A banalização sufocou o amor desde
o instante em que o sentimento predominante foi o martírio.
Afinal, contemplar o novo traz um frescor esperançoso, um frio gostoso que arrepia e, transforma. E serenamente, acalma toda aflição do coração. E eu? Eu pressinto uma comunhão enigmática de cores e sabores.