Surpresas da vida
por Rosana Machado Pinheiro
18 de junho de 2020
Lembro-me bem da minha infância. Cresci dentro de uma cerâmica, do Senhor Saturnino Pinheiro, onde morei até os meus 9 anos. No quintal da nossa casa ficavam os amontoados de barro usados para fazer telhas, onde brincávamos de pique esconde, de casinha, de escorregar e outras brincadeiras de crianças, em moda na época. Meu padrinho Ziquinha era gerente desta cerâmica e sempre me levava lá dentro – onde criança não podia entrar – e eu achava “o máximo” aquele tamanho de galpão, aquelas máquinas e tudo que compunha a fábrica. Minha mãe fazia doces e nós os vendíamos para os funcionários da cerâmica.
Outra lembrança que tenho é da minha rua, a Rua Mato Grosso, que de um lado tinha uma baixada onde brincávamos com velocípede. Em dia dessas brincadeiras eu empurrei minha irmã Jesana, e ela “desceu” ladeira abaixo, machucando a cabecinha! Apavorada com o tombo, eu me escondi da arte para não ser castigada.
Adorava minha infância! Quantas brincadeiras, quantas alegrias. A casa da minha avó paterna ficava em frente à minha, tinha fogão de lenha e sempre que papai ou mamãe ficavam bravos comigo eu corria para lá e me escondia debaixo da saia da minha querida vozinha para me proteger. Ela me colocava no rabo do fogão -como diziam antigamente- e lá ninguém chegava perto de mim. Saudosa vó Joana.
Aos nove anos de idade, assim que minha vó faleceu, minha família se mudou daquela casa para um bairro na entrada da cidade, ainda pouco povoado, quase só tinha a nossa casa lá por perto. Nós e a fábrica de café Três Irmãos, que continua no mesmo lugar.
Também tenho boas recordações dessa rua e das brincadeiras na Praça do Camilão, próxima à minha casa. Enfim tive uma infância rica, recheada de boas lembranças.
Passados alguns anos, voltei no tempo. Aos dezesste anos comecei a namorar um rapaz e namoramos muito tempo, até que um dia resolvemos ficar noivos. Esse rapaz era neto do dono da cerâmica onde vivi até os nove anos de idade. Ao contar a novidade para minha madrinha Justina que era esposa do padrinho Ziquinha, à época gerente da cerâmica onde passei a minha infância, ela me deu um abraço e disse: o seu padrinho e o Saturnino devem estar se revirando lá na cova de alegria. Sempre que seu padrinho te levava lá na cerâmica, quando você era bebezinha, o Saturnino falava “que menina bonita esta, tem que se casar com um neto meu”.
Moral da história é que, provavelmente devemos ter brincado juntos lá naquela cerâmica, embora eu não tenha lembranças disso. Mas quis o destino que eu me casasse com o neto da pessoa que já me conhecia e admirava. Estamos juntos há 35 anos, meu querido marido Saturnino Pinheiro Neto, e temos dois filhos lindos, Pedro Pinheiro Neto e Bernardo Machado Pinheiro.