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Minha infância

por Mariana Pinheiro Stein Pena

04 de junho de 2020

Minha infância

Giulia, minha filha, tem 7 meses de idade. Nesta quarentena resolvi revelar todas as fotos dela que eu tinha no meu celular e montar um álbum, assim, quando ela crescer, vai poder ver e reviver um pouco de como foi a sua infância. Como é bom viajar no tempo através das fotografias... Uma pena que na minha infância não existia máquina fotográfica como hoje as de hoje em dia – fáceis e acessíveis em qualquer momento -  que fazem qualquer momento bobo ficar eternamente registrado com um flash. Ah! Se eu tivesse um álbum inteiro com fotos da minha infância! Quanta coisa poderia mostrar para ela, dos momentos que vivi nas minhas férias em Monte Carmelo...

Quando penso na minha infância, sempre lembro de lá. Da casa das minhas avós cheias de primos, das brincadeiras na roça, rolando no barro e fazendo bolo com terra. Brincar de tingir os pintinhos, cuidar dos filhotes dos cachorros - que sempre davam cria -, adotar um Hamster, nadar no rego sem medo e sem frescura de nada. Fazer cabana usando todas as cadeiras da sala e lençol, jogar videogame com torcida organizada, regado a muita coca cola e bolacha com a ponta de chocolate - bolachas essas, que eu só comia a ponta com cobertura e deixava o resto no pote, diga-se de passagem. Fazia isso também com os bolos de chocolate - raspando toda a calda que decorava a quitanda - e minha avó, em sua infinita paciência, nunca chamou minha atenção. Ela carregava os netos na carroceria de sua caminhonete da sua casa na cidade até a roça e passava nos quebra-molas à todo vapor. Lembro-me que nós, sem cinto de segurança gritávamos lá de trás: “Acelera Vó”! E ela acelerava satisfazendo nosso pedido e achando graça. Depois disso, um pouco maiores, lá pelos 12 anos, era a época de fazer “vendinhas” na porta de casa. Todas as ideias que podiam render um dinheiro nas férias, nós fazíamos: vender suco, frozen, produzir roupa de boneca na máquina de costura... o que não faltava era o espirito empreendedor! Mas o que a gente mais amava mesmo, era vender pulseiras e colares feitos de micangas. E era uma concorrência daquelas na região, pois a cada esquina havia uma mesa de um primo com seus produtos, cada um usando sua criatividade e sua habilidade em inovar para vender mais. A loja da Josina era o melhor lugar do mundo para comprar os apetrechos. Havia miçangas de todas os tipos e cores. Amava sair de lá com a sacola cheia delas embrulhadas no papel com durex, já pensando no design do colar que eu ia fazer para vender no dia seguinte. O melhor ponto de vendas era em frente a casa da tia Maria. Lá, o movimento de pessoas na porta era grande, bem no centro, perto da igreja: o lugar ideal! Passávamos o dia todo na porta vendendo, e no final da tarde, tia Maria sempre preparava um lanche com pastel e suco de acerola. Quanta saudade! Passar a tarde na casa da tia Maria era como viver em um filme antigo. Aquele casarão, repleto de livros, redações, textos dos alunos que ela tinha no grupo, da época em que ela era diretora. Fogão a lenha, quartos imensos e uma penteadeira tão chique, que a gente passava escondido para o quarto dela, só para usar o pó de arroz e os perfumes finos que ela guardava. Toda véspera de Natal, era tempo de reunir os primos na casa dela para ensaiar a apresentação de final de ano. Sempre fazíamos uma peça de teatro ou dança – pensada e produzida por nós mesmos. Fazíamos o roteiro, ensaiava, pensava no figurino, e usava o quarto onde ficava sua biblioteca para ser o camarim. A apresentação era sempre para a família e acontecia todo ano, no dia do Natal. Era aquela festa: reunião de toda a família e uma grande expectativa para o dia da apresentação. Que tempo bom!  Quanta saudade sinto ao lembrar da casa dela. Foi uma infância tão simples, mas tão rica - riqueza de valores e de amor. Pequenas coisas que as crianças hoje em dia raramente terão a oportunidade de viver, talvez por falta de opção, ou por estarem presas às telas. Muitas não saberão o que é brincar como naqueles tempos, nem o que significa “férias na casa da avó”. Relembrando tudo isso, tenho muita gratidão pela infância maravilhosa que tive. Espero que, apesar da forma como está o mundo hoje, minha filha saiba viver assim também, valorizando as coisas simples da vida e seja rodeada de amor e aconchego, tais como eu encontrava na casa das minhas avós!

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