Notícias da nossa cidade
por Carmen Virgínia
06 de maio de 2020
Pelo whatsapp, recebo do amigo Galileu, um pedido de notícias de nossa cidade...
Em meio ao caos em que o mundo se encontra, fico por dias a fio procurando uma forma de dar a resposta, mas as letras correm de mim, ou não sei se eu corro das letras, o certo mesmo é que me recuso a ser mensageira desta ventania, que ora varre o mundo, e que obviamente, estacionou também por aqui.
Então lhe digo caro amigo, que gostaria mesmo de lhe contar que estou neste exato momento parada do lado de cima da Avenida, porque o trem chegou à Estação...
E, que aqui, neste lugar, neste momento, eu pararia o tempo.
Mas, o trem partiu e eu sigo pela Avenida, que tem nome, mas que entre nós é apenas a AVENIDA.
Desço meio quarteirão, e do lado esquerdo me deparo com o senhor Alamim, saindo no seu motor, da Farmácia Santa Terezinha, para aplicar injeção a domicílio e do lado direito, com a Dona Inhá, sentada na varanda do Hotel Avenida, recepcionando os seus hóspedes.
O barulho do motor e as batidas do meu coração direcionam o meu primeiro olhar para o prédio da farmácia, e quase deixo de ver os carrões expostos no casarão da esquina - na Chevrolet.
Andando mais um pouco, vejo entrar apressado o jovem Célio, na jovem Farmácia Regina, e na esquina da Avenida com a Praça, o Senhor Nenê Francisco, altaneiro na porta do seu estabelecimento comercial - A Casa da Sogra, que vende “quase de um tudo”.
Chego a Praça – que também tem nome, nome de presidente, mas que também para nós é apenas a PRAÇA.
E ela é linda! Um quadrado mágico – largos passeios por fora e um belo interior com alguns bancos e uma fonte que não jorra água. É dia, mas a magia de revê-la após alguns poucos cinquenta anos, me traslada para a noite...
O footing - os rapazes rodando por fora e as moças por dentro, e quando se formam os casais, depois do flerte de algumas rodadas, estes se transferem para a parte interna, onde à penumbra, ficam mais a vontade.
Continuo...
E vejo numa das esquinas a igreja Presbiteriana, em outra o majestoso prédio da Prefeitura, onde também no segundo andar funciona a Câmara Municipal, e ao seu lado o Hotel França.
Na contra esquina à Prefeitura, está a Casa Gil Pena – de prateleiras repletas de tecidos. Com os olhos atentos e o coração acelerado, e os pés fincados na mesma calçada, chego ao Bar do Júlio, e ele, meu querido amigo, não mais lá está. Engulo o choro, sigo e compro o meu picolé de tamarindo, no Bar do Xibiu. Não sem antes parar em frente ao Cinema – me olhando nos seus modernos espelhos, lendo os cartazes dos filmes da semana, da matinê de domingo, e como numa pintura de Rembrandt, vejo a Dona Maria, no balcão todo de vidro, vendendo as deliciosas balas quadradas de amendoim.
Misturado às emoções do meu devaneio, saboreio cada gelinho do delicioso picolé de tamarindo, e entro na Cinderela, para pedir a “bença” ao meu tio Rui – quem sabe ganho um par de sapatos?
Na outra esquina, o Banco Crédito Real. Atravesso a rua, passo em frente à Clínica do Dr. Juarez Soares, e stop! O prédio está lá – os alunos entrando pelo portão de cima, as professoras subindo e descendo os poucos degraus que as levam ao gabinete, às salas de aula, ao pátio, a cantina, quando pelo meu HD ouço nitidamente o sino tocando, anunciando o recreio.
Respiro...
Estou em frente ao Grupo Escolar Melo Viana e resolvo encerrar o meu noticiário.
Carmen Virgínia – abril/2020